quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

O menino que nasceu com asas.

A cidade parou hoje. Há muito tempo não se tinha notícias do homem voador. Na verdade, as pessoas nem se lembravam mais se ele existira realmente, ou se era uma lenda contada pelos mais antigos. Uma história para criança dormir.
Mas hoje havia uma novidade. As pessoas cochichavam. As mais desconfiadas, preferiram não emitir nenhuma opinião a respeito. Algumas diziam que só acreditariam se vissem o menino “ao vivo e a cores”. O prefeito, ao perceber o diz que diz de todos, perguntou à moça do café o que estava acontecendo.
- O senhor ainda não sabe não? Tão falando que um menino nasceu com asas.
Não. O prefeito não sabia não e ficou indignado com seus assessores que não lhe comunicaram notícia tão importante.
- Eu tinha que ser o primeiro a saber – bradou, vermelho de cólera. Um menino com asas pode gerar muitos dividendos para a cidade. Atrairá turistas, que virão ver o anjo.
- Anjo? – ousou dizer o faxineiro, que limpava a mesa do prefeito, naquele momento.
- Sim! Claro que é um anjo. Que eu saiba, só anjos têm asas.
- Passarinho também – retrucou o faxineiro.
- E avião – disse o assessor de comunicação.
- Eu quero ver esse menino já. Agora! Vamos – disse o prefeito aos funcionários da prefeitura que, a esta altura, já abarrotavam a sala. Saíram todos apressados e foram para a praça. O prefeito subiu no palanque, sempre armado, pois o distinto senhor todo dia discursava ao povo daquela terra.
- Meu povo – pigarreou, tossiu, coçou a garganta, enxugou o suor e continuou – hoje é um dia muito importante para nossa cidade. Estamos diante de um fato fenomenal, grandioso, espetacular. Nasceu um menino alado.
- Onde? Onde? Onde? – todos perguntaram.
- Sim. Onde? – perguntou o prefeito no ouvido da assessora de assuntos investigativos.
Esperta como ela só, já possuía a resposta. P’ros lados do rio, perto da cachoeira da pedra escorregadia. É o quarto filho do pescador e da artesã das redes de balanço.
- Vamos até o rio – disse o prefeito e assim seguiram todos até avistarem a chaminé da casa do pescador. Aproximaram-se mais e mais. Pararam diante da casa, o cheiro de comida cobria o ar. O casal, mais suas três crianças saíram para receber aquele povo todo, com olhares de interrogação estampados nos rostos.
- Onde ele está? Queremos vê-lo. Podemos entrar? – perguntou a amável secretária do prefeito.
- Quem???? – perguntou a artesã.
- O menino com asas.
- Ah! Ele já voou – respondeu o pescador.

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