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vivo em Santos com um pé no passado.
Emprestou-me um braço Chico de Paula
e respiro poeira e barulho à beira do cais.
Hoje o bigode de Francisco de Paula Ribeiro,
rosto másculo que gerou minha avó e o cais,
traz-me ais de outros tempos. Hoje compreendo.
Compreendo o tempo de hoje e o de ontem menina, quando dormia no banco de madeira do trem Sorocabana,
no enlevo de outro avô verdadeiro e estafeta.
Hoje compreendo que a filha de Chico casou-se
com o Presidente da Cia Paulista da Estrada de Ferro
Paulista e na Avenida Paulista nasceu meu pai.
Em 1922. Hoje entendo porque sou poetisa.
Meu pai me sobrenomeou Freire de Carvalho
e em sua madeira construí uma vida baiana,
cigana da Carmen Real, filha de imigrantes
campesinos espanhóis que virou Goldschmidt
mulher do condutor de bonde, depois estafeta
(devido a um acidente, que lhe marcou a mão),
e que nas castanholas espremia nas mãos
o sangue espanhol. Hoje entendo meu sangue judeu
e também porque meu avô chorava ao ler a Bíblia.
Hoje compreendo porque Adão e Eva geraram
Abel e Caim e porque Noé salvou a terra.
E o meu nome é José e agora José? Mas nasci Maria
e numa procissão no dia em que nasci a senhora de Fátima desfilou sua bela imagem na rua do meu avô
e virei Maria José de Fátima Goldschmidt Freire de Carvalho, que não cabe num único verso de linha.
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